Projeto Líderes Indígenas

Projeto Líderes Indígenas

Você está prestes a ler sobre o trabalho que executei, a convite da MudaMundus, durante o Curso de Aperfeiçoamento em Gestão para Lideranças de Organizações Indígenas da Bacia dos Tapajós, que aconteceu em Alta Floresta (MT).

A facilitação gráfica é tão poderosa e inclusiva que foi um dos elementos chave para auxiliar o aprendizado e embasar discussões entre professores e alunos.

Esse relato é um compilado de informações, curiosidades e emoções. Escrito para quem tem curiosidade de saber o que está por trás dos eventos, para quem é colega de profissão, para quem gosta de histórias. E foi escrito por alguém que é apaixonada pelo o que faz, obrigada por estar aqui!

Preparação

Antes de ir para o Mato Grosso, me reuni com a equipe MudaMundus para alinhar os pontos mais importantes e entender melhor o escopo do trabalho e as expectativas. Falamos sobre a importância de conhecer o contexto e a política do estado, fazer um vocabulário visual que fosse coerente com o público, com o tema e que permitisse identificação e representatividade.

Como nem todos os alunos tinham fluência em português, nos deram o desafio de ter mais imagens do que texto nos painéis, para que todos compreendessem o conteúdo.

Materiais que utilizei:

  • Folha de bobina para plotter – reserva (a bobina nova seria retirada no evento)
  • Giz pastel seco – Reeves 12 cores
  • Algodão
  • Canetas Carregadas – Neuland (Pretas e Amarela)
  • Canetas coloridas baseadas no contexto, nos logos e nos temas do curso – Staedler e Moulin
  • Canetas Tons de pele – Faber-Castell
  • 4 embalagens de Post it
  • 2 rolos de fita crepe
  • Massinha Adesiva Multitack – Pritt
  • Etiquetas brancas
  • 2 lápis HB
  • Borracha “limpa tipo”
  • Moleskine para rascunho

Durante

A programação do curso foi bem intensa, duas semanas de imersão, sendo dez dias de aula das 8h às 17h, e um sábado de aula das 8h às 12h.

A dinâmica nesse projeto foi diferente de outros que fiz. Tínhamos reuniões de alinhamento todo final de dia para feedbacks e para assegurar de que a Facilitação Gráfica estava cumprindo seu papel de suporte ao ensino do conteúdo.

A Facilitação Gráfica foi muito usada pelos alunos como material de consulta. Então, a minha preocupação e de toda a organização era de que os painéis fossem “comestíveis” e que apresentassem muitas imagens, cores e que fossem atraentes. Outra preocupação minha, era trazer fluidez entre as aulas sem que parecesse que os dias estavam sendo finalizados de forma abrupta. Minha intenção era de que as paredes pudessem contar a história do que foi vivido naquela sala, dia após dia, sem que precisasse de um interlocutor. E por isso, decidimos usar a folha inteira sem cortes: aproximadamente dez metros por painel.

Percebi, ao longo dos dias, que a dinâmica de ensino era completamente diferente do que estamos habituados a vivenciar. O tempo parecia ser diferente. E era. As falas eram mais pausadas e conscientes sobre a mensagem que deveria portar. Um nível de presença muito alto. Menos slides, mais troca. E por isso, antes de sair que nem uma doida escrevendo qualquer coisa no painel, precisei reaprender a escutar com calma, fazer conexões prévias em meu caderno (um moleskine de rascunho), e assim que eu percebia que tinha concluído a ideia, eu aproveitava os momentos de dinâmica entre eles para validar com a professora (outro ponto importantíssimo: professores indígenas fizeram a diferença na retenção do conteúdo e na atenção dos alunos – era uma educação dada por eles – para eles), para que eu não colocasse nada no painel que pudesse gerar algum tipo de desconforto.

Além do conteúdo previsto, desenhei também algumas dinâmicas que eles tiveram, uma dança, uma fala, uma brincadeira. Tudo, absolutamente tudo o que estava acontecendo era importante para contextualizar como estava sendo aquela experiências para eles.

“Pisa ligeiro, Pisa ligeiro, Quem não pode com a formiga Não assanha o formigueiro”

Usar metáfora visual como ferramenta foi extremamente assertivo para falar de assuntos complexos. (ex. composição de uma associação).

Quis trazer a mensagem de que o painel era um instrumento de aprendizado e que a criação dele poderia ser feito de forma colaborativa. Deixei em aberto o convite para quem quisesse deixar sua marca no painel, independente da idade, e sem dizer o que deveriam fazer. Tive cinco voluntários, cada um em seu momento, e isso trouxe um sentimento de proximidade e de coletivo. Todo mundo ali estava junto e caminhando em direção de um único objetivo que era finalizar o curso e aprender um pouco mais.

Resultado e Pós

  • 3 Painéis de aproximadamente 10 metros cada
  • Conheci pessoas e histórias incríveis
  • Os painéis foram enviados para uma gráfica para digitalização

Fofoca de bastidor que ninguém conta:

  • Quando chegamos percebemos que a folha comprada para o painel era de um tamanho menor, e que o novo rolo só chegaria no final daquela semana.
    Sorte do dia: Eu levei folha comigo para eventuais emergências, e por coincidência era o tamanho exato da parede que iríamos usar, aproximadamente dez metros.
  • Ao chegarmos na sala de aula no segundo dia, a folha que havíamos pregado na parede estava no chão – acredito que por causa do peso – reforçamos a quantidade de fita e colocamos chicletinho nas extremidades.
  • Na segunda semana um dos painéis rasgou pela metade e tivemos que remendar para que ao final fosse possível fazer uma retrospectiva de tudo que foi vivido.
  • Machuquei meu joelho depois dessa quantidade de dias seguidos de trabalho
    Prática de (quase) todos os dias: Assim que eu chegava no hotel eu fazia uma sequência de alongamentos e exercícios para aliviar as tensões e as dores
    Conselho que ninguém pediu: cuide do seu corpo, faça exercícios físicos e alongamentos de forma recorrente. Seu corpo é seu instrumento de trabalho.
    Lembrete: Evite pegar projetos que durem mais de três dias seguidos sozinha. A não ser que seja algo único e especial e que para você valha a pena o esforço (como foi esse caso para mim).
  • Se eu fosse contar com a minha memória, você não estaria lendo tudo isso aqui. Anote todos os dias os pontos mais relevantes do dia, as experiências, os nomes das pessoas e como você se sentiu, ter essas anotações te faz ter clareza do todo no final do projeto!
  • Me senti muito exausta mentalmente e fisicamente, mas muito feliz por ter colaborado com o projeto.

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